
liberdade zangada e liberdade com chão
Nos últimos dias, através do corpo e do movimento, dei-me conta de duas formas muito diferentes de viver a liberdade: a liberdade zangada e a liberdade com chão.
A liberdade zangada nasce da revolta. Surge quando algo se torna insuportável e o corpo reage: fugir, romper, sair. É uma liberdade contra algo. Há intensidade, urgência, energia. Muitas vezes, há alívio. Mas também há tensão, descontrolo e caos. O caos gera o cansaço. Quando a fuga se completa, o corpo descansa por um momento — e depois, não raras vezes, fica o vazio. É uma liberdade que liberta rápido, mas não se sustenta.
A liberdade com chão é diferente. Não nasce da raiva, mas da presença. Surge quando o corpo sente apoio, quando há consciência e curiosidade. Em vez de fugir, exploro. Em vez de fechar os olhos, abro-os. Há escolha, responsabilidade e enraizamento. A liberdade com chão liberta devagar, mas sustenta. E constrói. No contacto, com tempo, com possibilidade de continuar a escolher.
Em linguagem Gestalt, a liberdade zangada tenta fechar uma figura à força. A liberdade com chão permite que o inacabado exista, seja sentido e explorado, até encontrar a sua própria forma de se completar — ou não.
Hoje, reconheço: não procuro uma liberdade zangada. Procuro uma liberdade com chão.
Uma liberdade que não me arranca de mim, mas que me sustém enquanto caminho.